A Rússia, a Ucrânia e a interdependência do mundo: todos seremos afetados
O assunto mais comentado atualmente, tanto em termos geopolíticos como econômicos, é, sem dúvida, a invasão da Ucrânia pela autocracia russa liderada por Vladimir Putin.
Neste espaço, vamos tratar do assunto que mais nos interessa: os potenciais efeitos na economia. É de conhecimento geral a importância destes dois países no fornecimento de petróleo e gás. Alguns números podem dar a dimensão do fato: na Alemanha, por exemplo, dois terços de todo o gás consumido vêm daquela região, e um terço do petróleo, da Rússia.
Se o conflito se estender por mais tempo ou as sanções atingirem em cheio a venda do petróleo russo, haverá, sem dúvida, aumentos expressivos no preço do barril ao redor do planeta – e, para um mundo que briga fortemente contra inflação, não poderia existir notícia pior.
É possível, também, que tudo isso cause efeito trágico no Brasil. No caso da inflação de 2021, os transportes apresentaram o maior aumento: 21,03%, com impacto de 4,19% na inflação total de 10,06%. Os combustíveis foram os principais causadores deste resultado: a gasolina teve alta de 47,49% no ano passado.
Para 2022, a previsão dos economistas era de mais tranquilidade para o petróleo e um efeito bem menor no índice final, fazendo com que o IPCA chegasse próximo a 5,5%, e o ciclo de alta de juros do Banco Central (Bacen) fosse concluído mais rapidamente.
Assim, na hipótese de um conflito de grandes dimensões – ou mesmo a proibição de compra do petróleo russo graças às sanções –, poderemos ter um repique na inflação, em uma situação que já não é vantajosa em termos de preços. Isso sem contar nos valores dos fretes internacionais, potencializadores de todos os outros preços.
No entanto, os efeitos não param por aí: a Ucrânia produz quase um quinto de todo o mercado de milho do mundo; e a Rússia, quase um terço de todo o trigo.
Como se não bastassem estes números, o país russo também é um dos maiores fabricantes mundiais de fertilizantes. O efeito sobre a produção direta destes países e na produção de outras nações, via fertilizantes, seria bastante significativa.
O ciclo de alta de preços das commodities agrícolas, esperado que chegasse ao fim, pode se estender por mais algum tempo enquanto as tensões não se acalmarem. Os preços de milho, trigo e soja devem ser os maiores atingidos nesta classe de produtos.
Efeitos também devem ser sentidos no mundo financeiro. A Bolsa russa, no primeiro dia do ataque, caiu quase pela metade. Num momento de tensão, a tendência é que capitais fluam para moedas mais fortes e ativos mais conservadores. Ouro, dólar e papéis de renda fixa de países desenvolvidos são os mais procurados.
A tendência é que haja no Brasil, pelo menos no curto prazo, uma desvalorização da moeda nacional e uma fuga de capitais de renda variável. Este processo pegou o País num momento de entrada massiva de capitais externos, como tratamos no último artigo. Nos primeiros dias após a invasão à Ucrânia, o real se desvalorizou, mas não houve uma saída tão importante de divisas.
Em suma, o grande medo (ou o cenário mais pessimista) seria que o conflito gerasse uma grande parada da produção mundial, forçando o aumento de preços. Isso é conhecido na academia por “estagflação”. Não é a conjuntura básica, mas devemos estar atentos aos desdobramentos do conflito.
Fonte: André Sacconato – Portal Contábeis.